A História
do café no Brasil
Em menos de
um século, o café, bebida que não era hábito brasileiro nem português, passou a
ser largamente consumido, e hoje é presença constante em nosso cotidiano. Um
cafezinho significa início do dia, conversa com amigos, pausa no trabalho e
muito mais. É preciso, pois, analisar como o produto ganhou o mercado interno,
ou melhor, como se criou tal mercado.
Antes do
café, os escravos tomavam água de rapadura pela manhã. Só depois do cultivo no
Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba é que os trabalhadores das fazendas
passaram a tomar café, como estimulante, antes de sair para o trabalho. Foi
usado como estimulante do parto, ou da menstruação na puberdade, como
diurético, febrífugo e desinfetante; hoje, é usado ainda como antídoto contra a
embriaguez.
No interior
do Brasil, o bule de café constantemente sobre o fogão a lenha é imprescindível
no cotidiano de sua gente. É o “café pra visita”, “pra boca de pito”.
Nas cidades,
no começo do século, as pessoas recebiam em casa o café torrado e moído, que
era entregue por carroças puxadas a burro. O café, então, já fazia parte da
alimentação do brasileiro, que fosse puro ou com leite pela manhã, fosse puro
após as refeições - principalmente o jantar, quando se passava para outra sala
a fim de saborear o café, o licor, e fumar charutos. Isso acontecia na casa das
pessoas mais abastadas, mas o café sempre esteve presente também no dia-a-dia
do pobre, pois não poder oferecer um cafezinho para um amigo, ou um parente, é
considerado sinônimo de pobreza extrema.
No Rio de
Janeiro, no início da República, os cafés públicos, ou cafeteiras, do Largo do
Machado e da Rua do Ouvidor eram lugares para se estar à vontade e conversar
sem pressa. Por ali passavam homens de negócios, políticos, estudantes,
artistas, banqueiros, bancários, esportista, funcionários públicos e do
comércio. Esses cafés funcionavam dia e noite. Não havia ainda o “café
expresso”, tomado em pé e rapidamente pelos transeuntes.
Em São
Paulo, na década de 20, havia muitos cafés nas ruas ao redor do Largo do Café.
Os negociantes de café aí compareciam com suas amostras (latinhas com grãos do
produto). São Carlos e Ribeirão Preto também tinham suas cafeterias, como a
tradicional Soberana, onde Getúlio Vargas fazia questão de tomar café.
No Rio
Grande do Sul, onde a tradição é o mate, surgiram muitos cafés, como o Aquário,
em Pelotas, e o Centenário, o Coliseu e o Chave de Ouro, em Porto Alegre. Isso
não significa, porém, que o mate tenha sido substituído pelo café. O mate
representa a tradição familiar para ser tomado em casa e sem pressa. Já o café
é uma bebida pública, de consumo mais rápido.
O hábito de
tomar café se disseminou não apenas nos locais públicos mas também nas
residências, de norte a sul do país, na zona rural e na zona urbana. Hoje, o
Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo, sendo ultrapassado apenas
pelos Estados Unidos.
Antigamente
o café era distribuído pelas torrefadoras, que compravam e torravam grãos,
vendendo-os às vendas, tendas e cafés, onde era moído na hora. Hoje o café passou
a ser torrado, moído e embalado na própria torrefadora. O café é apresentado
como bebida para todas as horas, para ricos e pobres. É a marca registrada da
hospitalidade brasileira. Ironicamente, a propaganda procura salientar no
produto sua qualidade tipo exportação.