Não podemos deixar a nossa musica raiz morrer no interior do Brasil, temos que passar essa cultura maravilhosa para os mais jovens, para eles levarem pra frente, tem que ter mais olhares pra musica raiz.
Quando tenho oportunidade, sempre assisto o programa Viola, Minha Viola da TV Cultura, apresentado por Inezita Barroso-nossa enciclopédia viva da cultura caipira-, que vai ao ar nas noites de Sábado e nas manhãs de Domingo. E um fato que tenho notado nesse programa de auditório é a faixa etária da platéia, quase que exclusivamente formada por sexagenários. Isso chama a atenção pelo fato de que a geração atual está cada vez mais distante das nossas raízes culturais. A verdadeira musica sertaneja não é esse lixo musical das FMs, e seus artistas não são aqueles que desfilam patrimonios de fazendas e carrões importados nos programas de domingo à tarde. Muita gente não sabe, mas o termo pagode é de origem caipira. Pagode significava festa de fundo de quintal, onde as pessoas se divertiam e tocavam seus instrumentos ao som dos ritmos regionais.
Tião Carreiro( um dos maiores artistas da musica brasileira não reconhecido) inventou um repique de viola diferente e batizou o novo ritmo de Pagode, que atualmente é chamado de Pagode caipira, para que não haja confusão com o pagode(pseudo-samba) das FMs(façamos justiça ao Pagode do Morro, que não tem nada haver com esse lixo de FM).
Um argumento pelo fato da musica raiz estar preterida pela geração atual é que aborda temas distantes da realidade urbana, como as paisagens do sertão, causos de boiadeiros errantes,etc. Mas nesse argumento é que muita gente se engana. Vejam a letra da musica "O Rico e o Pobre", escrita por Nhô Chico e Dino Franco, e gravada pela dupla Dino Franco e Mourai. Tenho certeza que muitos punks e rappers se identificarão com o tema após sua leitura:
"Há tempo venho notando e fazendo conferência
Entre o rico e o pobre há uma grande diferença
O rico tem o que quer, o pobre só tem carência
O rico faz o pecado, o pobre faz penitência
Quando o rico fica velho, descansa na opulência
O pobre quando envelhece, coitado ainda padece
Na fila da previdência.
Entre o rico e o pobre é dificil a convivência
Por isso de vez em quando acontece divergência
Se o pobre bater no rico vai sofrer as consequências
Coitado vai pra cadeia por praticar violência
Se o rico bater no pobre, ninguem faz advertência
O azar é do mais fraco, diz que o pobre enche o saco
E o rico perde a paciência.
Existe uma velha lenda que me lembro com frequência
Diz que quando morre um pobre e um rico na adjacencia
O rico monta no pobre todo cheio de imponencia
Toca lá pro paraíso, que é a ultima residência
Lá o rico é recebido com aplausos da assistência
E o pobre pode entrar se ele conseguir achar
Uma porta de emergência.
Na hora do julgamento o rico ganha indulgência
Porque tem advogado provando sua inocência
O pobre se enrola todo no exame de consciência
O arcanjo São Miguel já vai lavrando a sentença
O rico fica no céu que é o lugar de preferência
E o pobre sai do pregório direto pro purgatório
Pra fazer mais penitência".
Como percebemos, não é só a MPB, o Punk Rock e o Rap que que discorrem sobre temas sociais de forma contundente como vimos na letra de "O Rico e o Pobre". Tião Carreiro e Pardinho gravaram a musica "Filhinho de Papai", uma alfinetada na juventude burguesa dos anos 60. Tonico e Tinoco compuseram e gravaram a bela toada "Boi de Carro", onde falam da exploração do trabalho através do reencontro do velho carreiro, já cansado e sem dinheiro, e o seu fiel boi carreiro, descaído pelo oficio e marcado para o corte.
Essa é a nossa musica raiz, esquecida pela geração atual, talvez pelo preconceito imposto pela midia, ou pela massificação da cultura estrangeira ou ainda de os nossos jovens sentirem vergonha em dizer que gostam da nossa musica caipira. Uma das maiores riquezas de um povo é a sua cultura, e essa riqueza esta se tornando parte do nosso passado.