terça-feira, 8 de maio de 2012
Cultura sertaneja!
1: O sertão abrange o Norte de Minas Gerais, o Sudoeste da Bahia, o Sul do Tocantins e o Nordeste de Goiás. Com seus ventos bíblicos, calmarias pesadas e noites frias, impressiona. Cortado por veredas e árvores retorcidas em desespero, todo ele são monótonos caminhos de caatingas e areais ressequidos. As "pueiras", lagoas mortas, de aspectos lúgubres, são o único oásis do sertanejo. A serra de Monte Santo, com seus tons azulados, é uma cortina de muralha monumental. As conformações rochosas, no ermo vazio do Bendegó, dão a ilusão de ruínas antigas. Os grandes desmoronamentos rochosos do sertão lembram "mares de pedras". Os rios salgados, quando secam, parecem um fundo de mar extinto, uma impressão acentuada pelos fenômenos ópticos do calor. Isso reforça a mítica sertaneja de que
"um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão"
. No sertão, a começar pelo solo e clima, tudo é adverso. O sertanejo sobrevive porque é uma raça forte. Assim como o cacto mais resistente, ele foi feito para o sertão. Tem o pêlo, o corpo e a psicologia próprios para suportar o suplício da seca. Conhece profundamente a flora e fauna. Sabe o nome e as vantagens de cada cacto, de cada mandacaru
, de cada xiquexique
. Seus pássaros: o carcará, o acauã, a asa branca. E a natureza que ele tanto ama é sua aliada na luta pela sobrevivência. Desidratado como as plantas, consegue viver dias só com o trivial e um copo d'água. E ama o sertão. Não se habitua a outro lugar. O sertão o destrói e hipnotiza. É o homem rude e sereno acostumado desde muito novo com a morte. Um resistente num lugar onde quase só existe deserto e onde a água é uma miragem.
2.
O Sertanejo.
Conforme estudos arqueológicos, a ocupação nessa região iniciou-se há cerca de 11 mil anos e transcorreu até o começo do século XX. Caçadores e coletores tiravam sustento dos campos, cerrados e matas. Os povos Macro-Jê, herdeiros desses traços culturais, receberam os Tupi- Guarani que fugiam dos colonizadores europeus. O colonizador escravizou africanos para a lavra do ouro. O sertanejo nasce, então, da miscigenação de europeus, índios e negros. O jesuíta, o vaqueiro e o bandeirante foram os primeiros habitantes brancos que migraram para a região. Deram origem aos tipos populares que compõem o sertão: o beato, o cangaceiro e o jagunço. Ali estão todos, com suas vestes características, seu apego às tradições mais remotas, o sentimento religioso levado até o fanatismo e o seu exagerado senso de honra. Tanto o cangaceiro quanto o jagunço são guerreiros. Homens de armas. O cangaceiro age em bando e por conta própria, vive como andarilho pelo deserto, obedecendo às leis do chefe do bando. O jagunço muitas vezes age sozinho. Protege alguém, que tanto pode ser um coronel como uma pessoa com quem tem uma dívida de honra. O fazendeiro dos sertões vive no litoral, longe de suas propriedades; quem cuida de suas terras é o vaqueiro, de fidelidade assombrosa e submissão inconsciente e servil. Mas na adversidade, sua roupa de couro pode se tornar a armadura de jagunço. Qualquer vaqueiro sabe lutar e lidar com armas. Oculta em si o guerreiro.
As sertanejas são diferentes das mulheres do litoral: são rezadeiras, rendeiras, mocinhas ingênuas, bruxas velhas e alcoviteiras (mexeriqueiras). Mulheres de coragem e encrenqueiras. Descendentes dos antigos jesuítas, os padres, os beatos e os conselheiros dão conselhos e são beatos da categoria mais alta entre a população. Padres e beatos podem se tornar líderes messiânicos como o padre Cícero, de Juazeiro do Norte, de grande influência no sertão. Sob tais influências, o matuto vai da extrema brutalidade ao máximo devotamento. Apesar da coragem, acredita em todos os mal-assombramentos. Está propenso a ser um "desvairado pelo fanatismo e um transfigurado pela fé." Por isso é um seguidor de messias fanáticos que o arrastam e endoidecem.A cultura do sertanejo é marcada pela lida com o gado, modo de vida simples e não consumista, observado na organização da família, nas vestimentas, nas festas religiosas, na religiosidade marcante e na alimentação com seus pratos típicos: a paçoca, o quibebe, o pão de queijo.A narrativa dos sertanejos sustenta a mobilização e a ação social e os tira da condição de bárbaros que não têm domínio do logos, os liberta do “pacto” e de sua modernização predatória. As raízes que sustentam a sua cultura se abastecem do “sítio simbólico de pertença sertanejo”. Tal sítio aflora em situações propícias como as promovidas pelas cooperativas de pequenos produtores rurais. O sertanejo é o “expert” da sua realidade. Políticas públicas e modelos que não consideram seu sítio, justamente por não serem situados.
3.
Caipira X Sertanejo.
Há uma proximidade entre o caipira e o sertanejo. No dicionário, a palavra caipira aparece como sinônimo na definição de sertanejo. Através disso, poderíamos entender que “sertaneja” é uma canção ou cantiga do sertão e pode ser uma canção caipira!!
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